Biohacking: Estamos a Educar ou a Criar uma Nova Elite da Saúde?

O biohacking surgiu como um movimento de autonomia, curiosidade e responsabilidade sobre o próprio corpo.
Começou com perguntas simples como: “E se eu puder melhorar o meu foco sem café?”, “E se for possível viver mais tempo, com mais energia, sem depender do sistema de saúde tradicional?”

E de repente, tornou-se tendência.

Hoje, falamos de longevidade, suplementos de precisão, inteligência artificial aplicada à medicina, wearables que rastreiam cada batida do coração e câmaras hiperbáricas em casa como se fossem normais.
Mas será que estamos mesmo a caminhar para uma saúde mais acessível, informada e inclusiva?

Ou estamos a criar uma nova forma de elitismo… disfarçado de inovação?


💰 O Problema Não É o Preço. É o “Para Quem?”!

Vivemos num mundo onde o acesso à informação é (teoricamente) democrático.
Mas o acesso à compreensão continua a ser um luxo.

A maioria das pessoas não rejeita a tecnologia de saúde por falta de vontade — mas por falta de visão sobre o seu valor.
Sem contexto, sem tradução, e sem pontes de entrada, o biohacking deixa de ser uma ferramenta e torna-se um espetáculo.

👉 E quem observa de fora pensa:
“Isto não é para mim. É demasiado técnico. É só para pessoas com tempo e dinheiro.”

Segundo dados da Global Wellness Institute (2022), o setor de wellness ultrapassou os 5 biliões de dólares. No entanto, os maiores problemas de saúde continuam a ser:

  • má alimentação,

  • sedentarismo,

  • falta de sono,

  • burnout,

  • solidão.

Ou seja: a inovação está a acelerar, mas a base está por cuidar.


🧠 Quando o Biohacking se Torna Dogmático

O movimento nasceu com o espírito de “experimenta no teu corpo, mede, ajusta, evolui”.

Mas nos últimos anos, vemos surgir uma corrente radical, onde o biohacking se transforma num ritual de performance contínua:

  • Se não jejuas 18h, não vale.

  • Se não tens red light de grau médico, não serve.

  • Se ainda usas micro-ondas ou shampoo convencional, estás fora do jogo.

O resultado? 
Um movimento que, em vez de empoderar… afasta.

E isso contradiz completamente a missão original do biohacking, tal como proposta por Dave Asprey ou Ben Greenfield:
Ajudar pessoas comuns a tomar decisões extraordinárias sobre a sua saúde.


🚀 Sim, Uso Gadgets e incentivo o uso — Mas o Futuro Está na Educação!

Não me interpretes mal:
Sou uma apaixonada por tecnologia aplicada à saúde.
Uso, testo e recomendo com entusiasmo:

  • Red light therapy – para mitocôndrias, pele e recuperação【1】

  • Sauna de infravermelhos – para detox celular, inflamação e longevidade【2】

  • PEMF (campos eletromagnéticos pulsados) – para regeneração óssea e muscular【3】

  • Câmara hiperbárica – para oxigenação, neuroplasticidade e performance【4】

  • Cetonas exógenas, sensores de glicose, HRV apps e IA nutricional personalizada

Sim, tudo isto funciona MESMO! — quando bem usado, com acompanhamento e objetivos claros.
Mas antes da aplicação, vem a educação.
Antes da recomendação, vem o contexto e o “porquê”.

Porque é impossível alguém aderir a algo que não compreende.
E a verdade é que:

A maioria das pessoas nunca ouviu falar de fotobiomodulação ou jejum intermitente como ferramenta regenerativa.
Nunca ninguém lhes explicou os fundamentos, os benefícios reais, e como começar de forma acessível.


📚 O Que Diz a Ciência?

Vamos a alguns exemplos práticos de tecnologias frequentemente promovidas:

🔴 Red Light Therapy

Estudos mostram que a luz vermelha (630-850nm) aumenta a produção de ATP, melhora a qualidade da pele, acelera a cicatrização e reduz inflamação【1】.

🔥 Sauna de Infravermelhos

A exposição regular pode reduzir marcadores inflamatórios (CRP), melhorar saúde cardiovascular e até reduzir risco de demência【2】.

🧲 PEMF

Pesquisas mostram efeitos positivos na regeneração óssea, alívio da dor e recuperação de tecidos【3】.

💨 HBOT (Oxigénio Hiperbárico)

Estudos recentes ligam o uso de HBOT à regeneração de telómeros e ativação de células estaminais【4】.

Ou seja: há ciência, há resultados, há potencial.
Mas… estamos a comunicar isso? Ou apenas a vender equipamentos?


🔁 O Biohacking Começa no Básico

Antes dos gadgets, há pilares que custam zero:

  • Ar puro

  • Sol matinal

  • Ritmos de sono

  • Alimentação anti-inflamatória

  • Movimento diário

  • Comunidade

  • Jejum bem aplicado

👉 A maioria dos benefícios do biohacking não vem da tecnologia, mas da consistência em aplicar a fisiologia natural a nosso favor.


💡 A Solução? Democratizar com Estratégia

Se queremos que o biohacking seja uma ferramenta real de transformação social e de saúde pública, precisamos de:

✅ Traduzir a ciência em linguagem simples
✅ Contextualizar cada prática no dia a dia real
✅ Humanizar a comunicação (sem culpa ou julgamento)
✅ Mostrar que se pode começar com pouco
✅ Criar modelos acessíveis, replicáveis e escaláveis

✨ Conclusão: Vamos Educar

O futuro da saúde é tecnológico, sim.
Mas também é ancestral, intuitivo e humano.

Se queremos um movimento sustentável, ético e inclusivo, temos de construir pontes.
Pontes entre a ciência e a prática. Entre o topo da inovação e a base da sociedade.

O biohacking pode mudar o mundo.
Mas para isso… tem de falar a língua de quem mais precisa dele.


📎 Referências:

  1. Hamblin, M. R. (2016). Photobiomodulation or low-level laser therapy. Journal of Biophotonics.

  2. Laukkanen, T., et al. (2015). Sauna bathing is inversely associated with dementia and Alzheimer’s disease. Age and Ageing.

  3. Markov, M. S. (2007). Pulsed electromagnetic field therapy: history, state of the art and future. The Environmentalist.

  4. Hadanny, A., et al. (2020). Hyperbaric oxygen therapy can induce angiogenesis and neurogenesis in patients suffering from cognitive impairment. Aging (Albany NY).

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